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Morangos e bananas. Combinar frutas ácidas e doces faz mal à digestão?

9 Mai 2024 - 10:37
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Morangos e bananas. Combinar frutas ácidas e doces faz mal à digestão?

Nas redes sociais sugere-se que algumas frutas não devem ser consumidas em conjunto, ou seja, na mesma refeição. Isto porque, supostamente, determinadas combinações de frutas prejudicam a digestão. Nestas publicações, regra geral, as frutas são divididas em cinco tipos: as doces, as semi-ácidas, as ácidas, as neutras e as hídricas. 

A autora de um vídeo partilhado no TikTok afirma que “não se pode comer banana e morango em conjunto”, porque o morango “é uma fruta semi-ácida” e “a banana é uma fruta doce”. Segundo a mesma criadora de conteúdos, comer essas duas frutas na mesma refeição “compromete a digestão”.

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Noutro vídeo alega-se que “melancias, melões e meloas são frutas digeridas muito rapidamente, porque têm muita água na sua composição”. No entanto, prossegue-se, “quando são comidas com outras frutas ficam mais tempo no estômago e isto pode levar a desconforto digestivo e inchaço”.

Mas será que a teoria da combinação de frutas tem validade científica? Frutas doces não devem ser misturadas com frutas ácidas (e semi-ácidas) e frutas hídricas devem ser consumidas sozinhas?

Comer frutas de “categorias” diferentes na mesma refeição é prejudicial para a saúde?

morangos e bananas combinações de fruta digestão

Em declarações ao Viral, Pedro Carvalho, nutricionista e professor de Nutrição na Universidade Católica (UCP) do Porto, adianta que “não há evidência” que sugira que as frutas de categorias diferentes, quando consumidas em conjunto, possam interferir na digestão ou causar sintomas de desconforto na população em geral.

Por isso, salienta o nutricionista, no geral, “a fruta pode ser consumida em qualquer contexto”. 

Segundo Pedro Carvalho, a categorização mencionada nas redes sociais – que distingue as frutas entre doces, semi-ácidas, ácidas, neutras e hídricas – “pode fazer sentido do ponto de vista químico e sensorial, mas nutricionalmente não tem tanta importância”.

Do ponto de vista do professor da UCP do Porto, “o mais importante é ingerir fruta” e, se possível, privilegiar “aquelas com maior quantidade de vitamina C, carotenos e potencial antioxidante”, tais como: “frutos vermelhos, laranja, kiwi, papaia, manga, maçã e pêssego”.

Outra ideia muito partilhada, na perspetiva de Pedro Carvalho, é juntar-se fruta com pão (ou a bolachas) “para supostamente diminuir a velocidade de absorção dos açúcares”.

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Contudo, frisa, “quando se juntam hidratos de carbono de diversas fontes na mesma refeição a resposta glicémica [o impacto da refeição sobre o nível de açúcar no sangue] é potenciada”, por isso acaba por se verificar o efeito contrário ao pretendido.

Além disso, ao contrário do que se pensa muitas vezes, apesar de a fruta ser rica em açúcares naturais (frutose), estes alimentos “têm geralmente um índice e carga glicémica baixos”, ou seja, a velocidade e o impacto que têm na glicose é pequeno.  

Por outro lado, acrescenta, “juntar fontes de fibra e proteína” – tais como  “laticínios proteicos, queijo magro ou frutos gordos” -à fruta é uma melhor opção do que juntar pão e bolachas.

Certas frutas podem ser prejudiciais para algumas pessoas?

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Apesar de não haver nada que comprove que certas frutas não devem ser consumidas em conjunto, algumas pessoas precisam de ter alguns cuidados na escolha do tipo de fruta.

Por exemplo, certas frutas (ou algumas quantidades dessas frutas) “mais ricas em frutose (maçã, pêra, figo, manga, fruta em lata, ameixa, cereja) podem ser desaconselhadas a quem sofre de síndrome intestino irritável ou intolerância à frutose”.

Isto porque a frutose faz parte de um conjunto de hidratos de carbono de cadeia curta que não são completamente absorvidos pelo intestino, o que pode desencadear sintomas de desconforto gastrointestinal em pessoas com síndrome do intestino irritável (ver aqui).

Por outro lado, as pessoas intolerantes à frutose, quando ingerem este açúcar, podem sentir, por exemplo, náuseas, inchaço, dores abdominais, diarreia e vómitos.

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Noutro plano, prossegue Pedro Carvalho, doentes com refluxo e azia são, muitas vezes, aconselhados a limitar alimentos mais ácidos, como “limão, laranja e tomate”. No entanto, o nutricionista considera até mais importante evitar “alimentos picantes, fritos e outras grandes fontes de gordura na alimentação”.

A importância do consumo de fruta para a saúde

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De acordo com um texto informativo publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), “as frutas e os vegetais são componentes importantes de uma dieta saudável” e a redução do seu consumo “está associada a problemas de saúde e ao aumento do risco de doenças não transmissíveis”. 

Os últimos dados da OMS indicam que cerca de “3,9 milhões de mortes em todo o mundo foram atribuídas ao consumo inadequado de frutas e vegetais em 2017”.

Tal como esclarece Pedro Carvalho, o consumo adequado de frutas “diminui o risco de todas as patologias mais importantes: cancro e doenças cardiovasculares e, por inerência, da mortalidade geral”.

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Além disso, refere-se no texto da OMS, “as frutas e os vegetais são fontes ricas de vitaminas e minerais, fibra alimentar e uma série de substâncias não nutritivas benéficas, incluindo esteróis vegetais, flavonoides e outros antioxidantes”.

Para garantir que a população usufrui dos benefícios proporcionados pelo consumo de fruta, a Roda dos Alimentos – o guia nacional para uma escolha alimentar – recomenda a ingestão diária de três a cinco porções de fruta.

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9 Mai 2024 - 10:37

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